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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cérebro humano está ''dentro dos padrões''

Estudo brasileiro também calculou o n.º de neurônios no órgão de vários primatas e aponta 14 bi a menos que os 100 bi citados para humanos

Herton Escobar

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O ser humano tem um cérebro grande. Mas nada fora do normal. Segundo um estudo que está prestes a ser publicado por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a anatomia do cérebro humano obedece fielmente à uma regra de escala dos cérebros de primatas, não só em tamanho, mas também no número de neurônios - que, por acaso, é bem menor do que se imaginava.

"Não há nada fora do comum nos nossos cérebros", diz o pesquisador Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, que foi um dos responsáveis pelo estudo. "Nesse aspecto, o ser humano é um primata como outro qualquer."

A base do trabalho é uma contagem inédita de neurônios no cérebro humano. O número tradicionalmente citado na literatura é de 100 bilhões. Lent até usou isso como título de seu livro - Cem Bilhões de Neurônios, Conceitos Fundamentais da Neurociência, de 2001 -, mas depois descobriu que nunca havia sido feita uma contagem precisa. Resolveu, então, fazer uma, com a ajuda da colega Suzana Herculano-Houzel. A parceria deu origem a uma série de pesquisas publicadas nos últimos anos sobre os cérebros de roedores e primatas.

No estudo mais recente, a equipe usou uma técnica especial - desenvolvida no próprio laboratório - para dissolver os tecidos cerebrais e extrair apenas o núcleo das células que compõem o órgão. Contaram os núcleos e chegaram a um total de, aproximadamente, 86 bilhões de neurônios - 14 bilhões a menos do que os sempre citados 100 bilhões.

Outra surpresa foi o número de células gliais, um tipo de célula que dá suporte aos neurônios e pode estar envolvida também no processamento de informações. A literatura popular costuma dizer que o cérebro tem dez vezes mais células de glia do que neurônios - o que pode ter dado origem ao mito de que só usamos 10% do nosso cérebro. Mas os cientistas encontraram uma proporção de praticamente um para um.

Todos esses números, segundo Lent, são compatíveis com a "lei de escala" estabelecida em um estudo anterior, que comparou a massa e o número de neurônios do cérebro de seis espécies de primatas, como o mico e o macaco-prego. O que significa, segundo os cientistas, que a composição do cérebro humano está 100% dentro dos padrões para um primata do seu tamanho.

Se a comparação fosse feita com grandes primatas, como o gorila e o orangotango, os resultados seriam diferentes. Os pesquisadores especulam, porém, que o que está fora dos padrões é o corpo, e não o cérebro, desses grandes símios. Nesse caso, não seria o homem que tem um cérebro grande demais para o seu corpo, mas o orangotango e o gorila que têm um corpo grande demais para seus cérebros.

A pesquisa foi feita com quatro cérebros doados pelo Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Os resultados do estudo, que foi tese de mestrado do aluno Frederico Azevedo, serão publicados na revista The Journal of Comparative Neurology.

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